Cabe ressaltar, porém, que o zoom do olhar de Niobe não pode nas flores se deter. Entrando dentro das flores, este começa a entrever outras imagens, que já despontam irremediavelmente. É ela mesma quem diz: “Porque comecei a pintar máscaras assim não sei – jamais refleti sobre o assunto. Penso que iniciei esse tipo de trabalho em 1964. Pintava plantas selvagens, imaginárias, quando formas estranhas passaram a surgir entre elas. Ao mesmo tempo, quando por longas horas eu contemplava a natureza, visualizava também formas estranhas entre as folhagens. O desenvolvimento delas sufocando as plantas era bem visível nas minhas telas, até que só as formas ficaram.” Os títulos das obras sugerem a perplexidade da artista: inicialmente Máscara-flor, Dispersão, A visão, Três máscaras-enigmas, Três máscaras e um mistério, Máscaras-símbolos, entre outros; depois, A grande máscara-portal, O grande enigma, A máscara e o enigma, O espanto, e muitas, muitas outras máscaras.
Ocorre que, em vez de procurar atribuí-las a uma suposta influência africana e ameríndia que, num certo nível, pode até proceder como fruto de uma memória involuntária, talvez valha a pena perguntar: O que todas essas máscaras mascaram?
Com efeito, tudo se passa como se a artista não estivesse reproduzindo as máscaras de culturas primitivas, mas as tomasse como a própria passagem da imagem pelo seu campo visual e pela tela, com tudo o que essa passagem revela e esconde no processo de “fazer imagem”. Com efeito, tem-se a impressão de que a artista precisa lidar com o desejo de fixar a imagem e com a impossibilidade absoluta de fazê-lo por completo, na medida em que tal fixação pressupõe a captura de um movimento que é, por definição, incapturável, e que por ser incapturável permanece invisível. Ora, o conflito entre o desejo e sua realização, inerente ao ato de pintar o que vê, parece levar Niobe a dirigir obsessivamente o seu olhar tanto ao que se pode ver (a figura nascendo) quanto ao que não pode ser visto (o movimento que a faz e desfaz) e que, no entanto, é constitutivo do que se pode ver. A máscara aparece então como a solução ou resolução do conflito, ao se dar como imagem no sentido próprio e figurado do próprio processo de criação artística, isto é de um movimento de figuração que é o invisível do visível, e de uma figura que resulta ser o visível do invisível.
A questão da máscara é, portanto, crucial, pois estamos diante de uma pintura que pinta precisamente o duplo caráter do próprio estatuto da imagem, uma vez que esta a um só tempo se mostra plenamente e dissimula a sua inconsistência.
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