É impossível deixar de notar que ela atende ao chamamento, transpõe o portal e se encontra em território estrangeiro, no qual composições abstratas rivalizam com composições florais que, por sua vez, dão lugar a seres híbridos, flores-pássaros ou aves-flores – um mundo não mais de formas, mas de metamorfoses, um mundo bizarro e viscoso de (de)composições em que, quando ainda há figura, esta prima pela precariedade e pela inconstância, vale dizer por seu caráter maleável e instável. Nesse território começam então a nascer flores fantásticas. É difícil decidir se o seu aspecto sombrio, quase alucinatório, decorre da imaginação da artista ou, antes, de seu desejo insaciável de se aproximar tanto das flores a ponto de perder a perspectiva de sua organicidade e de vê-las explodirem em cores e movimentos sinuosos. Como se Niobe quisesse entrar dentro delas para sentir de que modo são feitas, se organizam e se individuam, através de que artifício e astúcia se dispõem ao olhar.
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